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domingo, julho 10, 2011

Look Ma - No Wires!


Super-Homem está de volta!

Em 1978, o estúdio Warner Brothers e os produtores Ilya e Alexander Salkind (pai e filho) produziram o que seria o longa-metragem definitivo sobre quadrinhos. Apresentando o primeiro e maior super-herói da história, Superman: O Filme dirigido por Richard Donner cumpre todas as promessas que faz e supre todas as expectativas do mais ardoroso fã de quadrinhos e do Super-Homem. "Você vai acreditar que um homem pode voar (You'll believe a man can fly)" era o que diziam os pôsteres antes do lançamento em 25 de Dezembro de 1978. Esse filme tornou-se a primeira apresentação série de um personagem de quadrinhos na sétima arte. E para tal feito, não se poupou esforço nem talento. No grupo que compõe a equipe que produziu o filme, estão atores e atrizes consagrados, além de técnicos e escritores premiados.

A começar pelo texto. Para escrever a mitológica saga do último filho de Krypton, foi contratado o escritor de romances Mario Puzo, vencedor de dois Oscar pelo roteiro dos clássicos O Poderoso Chefão (1970) e O Poderoso Chefão II (1972), ambos de Francis Ford Coppola. Baseando nos quarenta anos de quadrinhos do personagem até em então e em dicas de Elliot S! Maggin, roteirista dos quadrinhos na época e escritor dos romances The Last Son of Krypton (1978) e da adaptação literária de Kingdom Come (1997), Puzo traçou a origem do personagem e suas primeiras aventuras na Terra de forma grandiosa e épica, o texto tornou-se o caminho a ser seguido e foi utilizado no desenvolvimento dos roteiros do filme original e sua seqüência Superman II (1980) de Richard Lester. O roteiro adaptado a partir do texto de Puzo, foi escrito a seis mãos por Robert Benton, David Newman e sua esposa Leslie Newman.

Robert Benton, vencedor de dois Oscar pela direção de Kramer vs. Kramer (1979) e pelo roteiro de Um Lugar no Coração (1964) já havia trabalhado com David Newman no roteiro do musical da Broadway: It’s a Bird, it’s a Plane, it’s Superman! (1966) e no filme Uma Rajada de Balas (1967) em que ambos haviam sido indicados para um prêmio da Academia de Hollywood, o que tornou fácil a realização um roteiro leve e inteligente para o filme do Homem de Aço. Além disso, por medo do produtor executivo Pierre Spengler, o diretor Richard Donner, de A Profecia (1976) contou com o suporte criativo de Tom Mankiewicz, roteirista de 007 Os Diamantes são Eternos (1971) e Com 007 Viva e Deixe Morrer (1973) durante as filmagens do filme.

Tantos talentos para apenas um roteiro de um filme de quadrinhos, alardeavam os críticos da época. E era exatamente isso que a Warner Brothers, dona da DC Comics, temia. Assim também exigiu a presença de um elenco de primeira grandeza. Com o roteiro de Puzo e um contrato de 3 milhões de dólares por apenas 5 cenas, conseguiram a participação de Marlon Brando para interpretar o papel de Jor-El, o pai kryptoniano do herói. Brando numa atuação impecável, mostra por que é considerado o maior e melhor ator que o cinema já teve, apesar de interpretar um papel simples e leve, ele alcança uma profundidade no personagem que arrepia até o mais frio espectador. Para o papel de Lex Luthor, foi chamado o competente Gene Hackman, vencedor do Oscar por Operação França (1971) de William Friedkin. Até os papeis secundários foram interpretados por lendas do cinema: Terence Stamp emprestou sua sutileza ao General Zod, Jackie Cooper mostrou sua energia como Perry White, Glenn Cooper tocou o público como Jonathan Kent e a jovem Margot Kidder fez a Lois Lane mais inteligente até hoje. Mas havia dois personagens que não conseguiam ser escolhidos.

Os produtores consideraram inúmeros atores famosos para o papel duplo de Clark Kent e Super-Homem. Desde Robert Redford até Muhamad Ali (não é brincadeira). Quando decidiram por um jovem ator de teatro desconhecido: Christopher Reeve. A mágica estava completa. Reeve conseguiam a impressionante proeza de vestida uma roupa azul e uma capa vermelha, sem parecer ridículo. A charmosa e inteligente atuação dele impressionou até críticos que viam uma adaptação de quadrinhos com desdém. Donner sempre temia que Reeve fosse muito magro e fraco para o papel e contratou o atleta David Prowse para treina-lo, esse havia “interpretado” o papel de Darth Vader em Guerra nas Estrelas (1977) de George Lucas. Também da saga estelar, Superma: O Filme emprestou o maestro John Williams para compor o que seria o hino do personagem para toda a eternidade. A fotografia ficou por conta de Geoffrey Unsworth de 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968) e Cabaret (1972). Após quase uma década para sua preparação, dois anos de pre-produção e 55 milhões de dólares, Super-Homem chegou a tela prateada de forma espetacular. Arrecadou US$ 134.218m nos EUA, recebeu três indicações para Oscar: Fotografia, Trilha Sonora e Som e um Oscar Especial pelos magníficos efeitos visuais que fizeram o mundo acreditar que um homem podia voar.

Agora, em Maio de 2001, a Warner Brothers está preparando o último capítulo dessa linda história. Após um ano restaurando a película original do filme com a supervisão de Richard Donner, o estúdio prepara para relançar o filme nos cinemas e em DVD numa versão especial com 8 minutos a mais, criados a partir de cenas que não foram utilizadas originalmente, incluindo uma nova cena com Marlon Brando e Christopher Reeve atuando “juntos” na Fortaleza da Solidão. A versão original tinha 143 minutos.

A versão DVD será infinitamente superior a última versão digital do filme em LD (Laserdisc) lançada em 1990, em dois discos e contendo:

Quatro documentários produzidos especialmente para esse lançamento:

The Magic Behind the Cape: Sobre os efeitos visuais revolucionários.
Superman: Filming the Legend: Sobre a produção e o lançamento de 1978.
Screen Tests: Sobre a escolha dos atores que fomaram o elenco.
Taking Flight: The Developing of Superman: Sobre a pre-produção do filme.

Comentário em áudio em todo o filme por Richard Donner e Tom Mankievicz.

As audições para os papéis de Super-Homem e Lois Lane.
Diferentes releituras na trilha sonora para oito cenas diferentes.
Uma faixa em Dolby 5.1 para a magnífica trilha composto por John Williams.
Duas cenas perdidas que nunca foram usadas no filme totalizando 20 minutos de material inédito.
Web-ROM interativo dentro do DVD contendo Storyboard to Screen, demonstrando e comparando os desenhos de produção as cenas do filme.

Dois trailers originais de cinema.
Biografia e Filmografia do Elenco e do Diretor.
Legendas em Inglês, Francês, Espanhol e Português.
Trilha restaurada e remixada em Dolby 5.1

Além da versão especial do filme o DVD conterá a filme original do filme como foi lançado há 23 anos atrás em WideScreen (formato letterbox 2.35:1 para TV 3:4 e 16x9) . Junto ao lançamento do filme original em DVD, a Warner estará lançando as seqüências: Superman II (1980) e Superman III (1983) ambos dirigidos por Richard Lester e Superman IV: Em Busca da Paz (1987) de Sidney J. Furie. Todos em WideScreen e contendo o trailer original de cinema. Haverá também o lançamento de um Box-Set com os quatro filmes em uma luxuosa caixa especial. Novamente, a Warner não está poupando esforços para o primeiro e maior super-herói que o mundo já conheceu.

Artigo originalmente publicado em omelete.com.br, 21 de março de 2001.

This is no fantasy - no careless product of wild imagination.


Superman: O Filme
Superman: The Movie, 1978, EUA

Num sábado à tarde de junho de 1979, meu pai me leva ao cinema para assistir a Superman - O Filme. Eu tenho cinco anos. Tudo está perfeito: um saquinho de pipocas no colo, meu pai ao lado para explicar o que eu não entender e – o mais importante – uma história em quadrinhos prestes a ganhar vida.

O filme começa. Estamos em junho de 1938. Um garoto folheia um exemplar da mítica Action Comics. O desenho fixa-se no prédio do Planeta Diário e, em seguida, somos lançados ao espaço, onde se desenrola uma impressionante seqüência de créditos iniciais. Quando os nomes dos atores principais são apresentados, surge o famoso emblema acompanhado do título: Superman! Finda a viagem pelo cosmo, vemos um planeta azul orbitando um sol vermelho. O resto é história.

A NOVA VERSÃO EM DVD

Mais de vinte e um anos se passaram. Já assisti ao filme inúmeras vezes, mas, só agora, a experiência de revê-lo beira a que povoa minhas recordações. Explico: acabo de assistir à nova versão em DVD. Tudo está lá novamente e nem preciso do saquinho de pipoca. Meu herói favorito continua vivo e mais real do que nunca. As cores estão vigorosas, os efeitos visuais, perfeitos, as feições e os cenários, nítidos como jamais estiveram. As cenas acrescidas não tornaram o filme mais lento. Ao contrário, deram força à narrativa.

O que me surpreende em Superman – O Filme é o ritmo sereno, a certeza de que tudo tem seu tempo. O diretor Richard Donner não se apressa em mostrar os fantásticos efeitos que nos fizeram crer que um homem podia voar. O Super-Homem, de uniforme e capa, demora 45 minutos para surgir na tela, e quando o faz, fica óbvio que a decisão não podia ser mais acertada. Nesta nova versão, ainda foram incluídos mais cinco minutos antes do Homem de Aço fazer seu debut glorioso em Technicolor.

TRÊS EM UM

O filme, na verdade, não é apenas um, mas três. Donner e seu consultor criativo Tom Mankiewicz, que refez o roteiro original, dividiram-no em momentos bem distintos. O primeiro deles trata-se de uma ficção científica. Marlon Brando, como Jor-El, confere à trama um tom quase religioso. O planeta Krypton é frio, pálido e, de certa forma, triste. Evoluídos ao extremo do ceticismo e da prepotência, os kryptonianos enxergam-se como senhores do universo, imortais e indestrutíveis. É essa vaidade que torna impossível vislumbrarem seu fatídico destino. A nova versão traz duas cenas extras que, embora acrescentem pouco, explicam a existência e o funcionamento da Zona Fantasma.

Quando Kal-El chega à Terra, tem início a segunda parte. Agora, estamos diante de um drama rural. As cores campestres substituem os tons monocromáticos que imperavam antes. Vemos a Americana do pintor Norman Rockwell. Os temas do american way of life fazem-se presentes nas plantações e nos valores do casal Jonathan e Martha Kent, os pais adotivos do filho das estrelas.

A nova versão traz neste início duas cenas extras: a primeira apresenta, no trem que Clark desafia, a ainda menina Lois Lane, cujos pais são interpretados por Noel Neil e pelo saudoso Kirk Alyn, respectivamente Lois Lane e Clark Kent do seriado de 1948; a segunda mostra o amanhecer em uma fazenda de Pequenópolis, Kansas. Martha prepara o café da manhã para seu filho; mais uma propaganda do matinal Cheerios. É curioso que, em vários momentos de sua história, o Super-Homem tenha sido patrocinado por cereais. A Kellogs marcou presença tanto na radiossérie dos anos trinta quanto nos episódios para TV da década de cinqüenta.

A terceira parte começa em Metrópolis. Mais uma vez, é quase outro filme. Nada de ficção científica e muito menos de drama rural, seu tom beira a comédia romântica povoada sátiras, ironias e paródias, mas sem perder o toque grandioso. Brincadeiras, como a da cabine telefônica quando Clark precisa se transformar no Super-Homem, mesclam-se perfeitamente com cenas de ação como o resgate simultâneo de Lois e de um helicóptero.

RESTAURAÇÃO METICULOSA

Na nova versão, as cenas estão limpas e claras. Nem parecem ser de 1978, época em que não havia efeitos digitais. Foi meticulosa a restauração de imagens e sons empreendida pela equipe de Donner, como os retoques de cores e iluminação nos poucos trechos originais em que o traje ficava esverdeado. As imagens extras, no entanto, foram alvo de maiores esforços. É o caso das demonstrações de superpoderes, ausentes em 1979, que receberam o realce de efeitos digitais. As demais seqüências acrescentadas têm poucas importância, mas é saboroso ver Clark Kent cruzar com um pedestre interpretado por Richard Donner. Destaque também merece a trilha sonora composta por John Williams, pela primeira vez, em Dolby Surround 5.1.

A versão aqui resenhada é a americana Região 1, lançada no início de maio pela Warner Home Video. Nos EUA, foram postos à venda cinco títulos: os quatro filmes e uma caixa com todos eles reunidos. Apenas o primeiro, agora em widescreen (2.35:1), foi restaurado e expandido. Seu disco consta de três faixas de som – a trilha propriamente dita, as composições de John Williams e os comentários de Richard Donner e Tom Mankiewicz –, dois trailers originais de cinema, o da televisão americana e três documentários sobre a pré-produção, a produção e a pós-produção, em que são entrevistados, além de Donner e Mankiewicz, o editor Stuart Baird e os atores Christopher Reeve, Margot Kidder, Gene Hackman e Marlon Brando. Reeve também aparece nos testes que fez para o papel principal. Há imagens de outras atrizes cogitadas para interprestar Lois Lane. Duas cenas não utilizadas em 1978 e nem na versão expandida são exibidas. Uma faixa especial para DVD ROM traz storyboards e trailers. O disco região 1 contêm legendas em inglês, francês, espanhol e português, o que vai garantir, em agosto, o lançamento na região 4, que inclui o Brasil.

Superman – o filme continua sendo uma experiência única e emocionate. Aproveite o novo DVD e confira como se faz, de maneira decente, uma adaptação de histórias em quadrinhos para a tela grande.

PRÊMIOS E INDICAÇÕES:

Academy Awards (Oscar), 1979:
Prêmio Especial de Realização em Efeitos Visuais.
Indicado ao prêmio de Melhor Edição para Stuart Baird.
Indicado ao prêmio de Melhor Trilha Sonora para John Williams.
Indicado ao prêmio de Melhor Som.

Academy of Science Fiction, Horror and Fantasy Films (Saturn) em 1979:
Melhor Design de Produção para John Barry.

British Academy Awards (BAFTA), 1979:
Melhor Revelação para Christopher Reeve.
Indicado para Melhor Fotografia para Geoffrey Unsworth.
Indicado para Melhor Direção de Arte para John Barry.
Indicado para Melhor Som.
Indicado para Melhor Ator Coadjuvante para Gene Hackman.

Golden Globe (Globo de Ouro), 1979:
Indicado para Melhor Trilha Sonora para John Williams.

Grammy Awards (Grammy), 1980:
Melhor Álbum de Trilha Sonora de Filme ou Especial de TV para John Williams.

Hugo Awards, 1979:
Melhor Apresentação Dramática.


Resenha do DVD publicada em omelete.com.br, 21 de maio de 2001