quarta-feira, outubro 03, 2018

Joe Shuster: Entrevista Exclusiva com Julian Voloj


A História de Joe Shuster


Joe Shuster
Entrevista Exclusiva com Julian Voloj

Todo mundo conhece o Super-Homem, mas nem todo mundo conhece a história dos dois jovens de Cleveland que criaram o Super-Homem. Baseado em material de arquivo e fontes originais, " A história de Joe Shuster: O artista por trás do Superman" conta a história da amizade entre o escritor Jerry Siegel e o ilustrador Joe Shuster e o coloca no contexto mais amplo sobre a origem da indústria americana de quadrinhos.

Em “A História de Joe Shuster: O Artista por trás do Superman”, Julian Voloj e o artista Thomas Scampi traçam um retrato intimista sobre a vida e a obra de Joe Shuster, o primeiro artista do gênero de super-heróis que junto com ser amigo Jerry Siegel criaram o Super-Homem.

Com a publicação de “Joe Shuster” no Brasil pela Editora Aleph em 25 de outubro de 2018, e em homenagem aos 80 anos da publicação da revista Action Comics #1 (DC Comics) que introduziu o Super-Homem em abril de 1938, entrevistamos o escritor Julian Voloj, sobre sua nova graphic novel que acaba de vencer o prêmio Carlos Gimenez na categoria "Melhor Trabalho Internacional" anunciado na Heroes Comic Com em Madrid.

Julian VolojJulian Voloj é fotógrafo e escritor, seu trabalho criativo foca em identidade e herança.

Como fotógrafo contribuiu nos jornais The New York Times, The Washington Post e The Jerusalem Post.
Teve mostras exibidas no Museu Deutsch-Historisches de Berlim, e no Bronfman Center na Universidade de Nova Iorque e no Museum of Arts no Queens. Em 2012, o Consulado Alemão em Nova Iorque, exibiu uma retrospectiva de dez anos de sua fotografia na mostra “Only in America”.

Nos quadrinhos ele escreveu a graphic novel “Ghetto Brother: A Lenda do Bronx” ilustrada por Claudia Ahlering e publicada no Brasil em 2016 pela Veneta Editora, que nasceu do convívio com o ex-líder da gangue Benjamin Melendez.
Super-Homem.COM

Como você teve a ideia? Você é fã do Super-Homem? Siegel e Shuster foram os fanboys originais, você se identifica com eles?


Eu fui fascinado com a história dos quadrinhos americanos por um bom tempo. Vivendo em Nova Iorque, eu tenho quadrinistas e historiadores entre meus amigos. Eu acho que sendo um quadrinista de quadrinhos, você é um fã e, até ser ponto, um geek.

Pesquisando a história de Joe Shuster e Jerry Siegel, havia muitas situações que são familiares. Quadrinhos é uma indústria difícil e muitas vezes há frustrações porque é duro ganhar a vida com quadrinhos. Então, sim, de muitas maneiras me identifico com eles.


A história trata de um período bem específico da vida de Joe Shuster, da adolescência até o ano de 1975, quando os créditos do Super-Homem voltaram para eles. Por que você escolheu esta época da longa vida dele?


Não é apenas um livro sobre a vida de Joe Shuster, mas também sobre a criação do Super-Homem, sobre a história americana e sobre as datas pioneiras da indústria de quadrinhos que foi realmente criada graças ao Super-Homem.


Eu quero que o leitor entenda como esse primeiro super-herói foi criado e como ele criou a indústria como um todo. Para fazer isso, você tem que voltar as suas origens e entender quem eram seus criadores.

Siegel e Shuster vieram da mesma cultura e tiveram uma origem similar, sendo ambos filhos de judeus imigrantes do leste europeu. Eles eram fascinados pela cultura pop contemporânea e tiraram elementos dela para criar o Super-Homem. A dupla identidade vem de Zorro, sua cidade é uma cidade americana moderna, mas também é inspirada no famoso filme (Metropolis, 1927) de Fritz Lang. Sua história de origem lembra a história bíblica de Moisés. De todas essas e de muitas outras fontes eles criaram algo totalmente novo: uma ficção científica do aqui e agora, não de humanos explorando planetas distantes, mas um alienígena (inicialmente um homem do futuro) vindo à Terra e se tornando seu herói.

Eu poderia ter continuado o roteiro até o final da vida de Joe, mas queria terminar com um final feliz. Então o acordo com a DC Comics foi esse tipo de final feliz que foi um bom fechamento para a narrativa, mas na vida real, ainda havia muito drama (que o leitor pode ler em outro lugar). Acho que a conclusão que termina em uma nota feliz funciona, já que é uma história de vida muito triste, mesmo que seja contada de maneira divertida.



A maioria dos livros sobre criação do Super-Homem se concentra principalmente em Siegel, seu livro tenta uma nova maneira de olhar, da perspectiva de Shuster. Você pode falar sobre essa decisão e as dificuldades em pesquisar sua vida, especialmente entre 1948 e 1975?

Siegel era a figura dominante da dupla criativa. Ele escreveu os roteiros, ele negociou com os editores e foi ele quem decidiu ir a julgamento.

Joe seguiu sua liderança, e acho que ele decidiu se juntar a Jerry na lide contra a National Publications (nome original da DC Comics) por causa de sua amizade e solidariedade para com ele.

Inicialmente eu estava planejando escrever a partir da perspectiva de uma terceira pessoa, mostrando as duas vidas em paralelo, mas então eu tive acesso a alguns escritos originais de Joe. A Universidade de Columbia, daqui de Nova Iorque, recebeu uma doação de cartas, documentos legais e outros materiais da década de 1960. Ler sobre as lutas de Joe vindo de sua própria voz me convenceu a torná-lo o narrador.



A quantidade de tempo e trabalho dedicados à pesquisa é claramente notável! É possível ver grandes influências de livros como "Superboys" de Brad Ricca, a Biografia do Larry Tye, até mesmo “Homens do Amanhã” de Gerard Jones. Por quanto tempo você pesquisou antes mesmo de começar o livro? Alguma outra referência principal?

Eu tive muita sorte de ter acesso ao trabalho de outros. Existem toneladas de informações disponíveis. Se você procurar on-line, poderá encontrar gravações de áudio, videoclipes, documentos jurídicos e muito mais.

Meu interesse vem de várias décadas, mas provavelmente comecei a pesquisar seriamente o roteiro por volta de 2010. Em 2013, visitei Cleveland, refazendo seus passos e, em 2014, acessei os documentos que foram doados à Universidade de Columbia, que mudaram drasticamente o roteiro. Creio que no final de 2014 o roteiro estava pronto e meu agente me apresentou a Thomas.



Você teve a chance de viajar para os locais apresentados no livro? Cleveland? Nova Iorque? Toronto? Você trabalhou apenas em fotografias e poucas imagens disponíveis daquela época?


Sim, como mencionei antes, visitei Cleveland em 2013, logo depois de Toronto, e morando em Nova York, a história também está perto de casa para mim.


Um fato curioso, a última residência de Joe em Nova York fica a apenas alguns quilômetros a leste da minha casa no Queens e a cena de abertura é no meu próprio bairro.



Jack Kirby, Bill Finger, Steve Ditko, Jerry Siegel, Joe Shuster e muitos outros criadores sofreram injustiças e viram suas criações sendo removidas deles.
Esta é uma história de interesse humano, Joe Shuster não é um herói, ele é imperfeito, vocês mostram ele como uma pessoa tridimensional e sua longa vida foi cheia de decepções e lutas, desde seu problema de visão, a sua passividade e a tristeza nos anos posteriores e seu breve romance com Jolan Kovacs. O livro pinta um panorama muito realista de sua vida, mas em algumas passagens você escolhe fazer uso de sequências de fantasia para lidar com as injustiças que ele experimentou. Você poderia falar sobre isso?

Era importante tornar a história não em preto e branco. Joe não é apenas uma vítima, mas um ser humano que com certeza cometeu erros.

Os editores não são necessariamente os vilões e, como vemos, Jerry e Joe tiveram bons salários no começo e foram celebridades na primeira década do Super-Homem.

Mas então Jerry decidiu balançar o barco, e Joe se juntou a ele por amizade, e o resto é história.

Alguns afirmam que eles foram ingênuos no início, assinando um contrato que daria os direitos, mas como mostramos no livro, não havia precedentes para aquilo e ninguém esperava que o Super-Homem fosse um sucesso.

Então, da mesma forma que Super-Homem se tornou o modelo para o gênero de super-heróis, esse tipo de contrato se tornou o modelo para futuros contratos. Os quadrinistas e criadores estavam trabalhavam por demanda no modelo de “work-for-hire”, e empresas possuíam a propriedade intelectual das histórias e personagens.

Foi o pecado original. Isso é o que torna a história tão fascinante.



Como foi o processo de trabalho entre vocês dois neste livro? Vocês tiveram um roteiro completo antes de começar? Ou vocês trabalharam em uma versão inicial foram colaborando juntos?

Primeiro escrevi o roteiro completo e o apresentei ao meu agente, que me mostrou o portfólio de vários artistas. Quando eu vi o trabalho de Thomas, eu sabia que ele seria a escolha perfeito e, felizmente, ele gostou do meu roteiro e concordou em trabalhar comigo nisso. Houve pequenas mudanças ao longo do caminho, mas tudo em todo o script permaneceu o mesmo durante todo o processo.




O livro está sendo publicado no Brasil nesta semana, pela primeira vez em língua portuguesa. Esta é a sétima versão estrangeira publicada depois que a americana foi publicada em maio passado. Você criou o original em inglês? Super-Homem é muito popular em todo o mundo, como você vê o sucesso internacional do livro?

Assim como minha primeira graphic novel “Ghetto Brother” (publicada no Brasil em 2016), o roteiro foi escrito em inglês.

Quando apresentei a ideia ao meu agente, ele me disse que o livro tinha um potencial enorme, já que os super-heróis são populares em todo o mundo. Mas ainda assim é bom ver que a história de Joe Shuster agora alcança novos públicos. Embora a história seja bastante conhecida nos EUA, e em outros países, e suponho que isso também seja verdade no Brasil, as pessoas não estão cientes do destino dos criadores de Super-Homem.



Qual é o teu próximo projeto? No que você está trabalhando agora?

Atualmente estou trabalhando em alguns novos projetos. Depois de ter lidado, tanto em “Ghetto Brother” quanto em “Joe Shuster”, com heróis esquecidos que não receberam o reconhecimento que mereciam, agora estou focando em algo totalmente diferente. Juntamente com o artista brasileiro André Diniz, estamos transformando um conto de fadas brasileiro em uma graphic novel para crianças. O projeto ainda está em um estágio inicial, mas será um ótimo livro.

Entrevista conduzida por Fabio Marques para o site Super-Homem.COM  (1/10/2018).
Leia também a entrevista exclusiva com o artista Thomas Campi.
Jerry Siegel and Joe Shuster, arte de Thomas Scampi

A História de Joe Shuster: O Artista por trás do Superman

de Julian Voloj e Thomas Scampi
Editora Aleph, 25 de outubro de 2018
Tradução de Marcia Men
ISBN 978-8576574200
http://www.editoraaleph.com.br/