terça-feira, janeiro 20, 2009

And maybe I'll give Pete Ross a call...


Superman For All Seasons

Escrita por Jeph Loeb
Desenhada por Tim Sale
Colorida por Bjarne Hansen
Leterizada por Richard Starkings
Minissérie mensal em quatro partes publicada pela DC Comics entre julho e outubro de 1998.

Vencedora do Comics Buyers Guide Fan Awards de 1998: Série Limitada Favorita e História em Quadrinhos Favorita.
Vencedora do Wizard Fan Awards de 1998: Minissérie ou Especial e Letrista Favorito para Richard Starkings e Comicraft; Indicada para Colorista Favorito (Bjarne Hansen)
Vencedora do Will Eisner Awards de 1999: Melhor Artista/Arte-Finalista em 1999 (Tim Sale); Indicada a Melhor Série Limitada (Jeph Loeb e Tim Sale), Melhor Escritor (Jeph Loeb) e Melhor Colorista (Bjarne Hansen).

Republicada na língua portuguesa em quatro partes quinzenais pela Editora Abril entre setembro e outubro de 1999 sob o título Super-Homem - As Quatro Estações e novamente republicada na língua portuguesa em formato encadernado pela Panini Comics Brasil em julho de 2006 sob o título Grandes Clássicos DC #8: Superman - As Quatro Estações.



Gibi de Gente Grande

No Brasil, ao contrário de outros países, as histórias em quadrinhos ainda são consideradas um passatempo exclusivamente infantil. As editoras nacionais não conseguiram transformar as crianças e os adolescentes dos anos 80 em consumidores adultos da década de 90. Por sua vez, nos Estados Unidos, desde meados dos anos 70, a média de idade dos leitores vem aumentando. Para atender a esse novo perfil, foram produzidas séries complexas como Watchmen de Alan Moore e Dave Gibbons, e Batman, o Cavaleiro das Trevas de Frank Miller, cujo sucesso inspirou, a DC Comics a criar a linha Vertigo, destinada a publicações mais maduras. No entanto, a editora relutava em submeter à mesma abordagem o seu ícone mais relevante, o Super-Homem. 

As coisas começaram a mudar em 1996 com o lançamento de Reino do Amanhã de Mark Waid e Alex Ross. O que, no início, parecia ser uma aventura da Liga da Justiça acabou se revelando uma saga emblemática do Homem de Aço. No entanto, não era o herói a que estamos acostumados. Tratava-se de um personagem mais profundo, humano... e mais maduro. Por fim, o primeiro e maior super-herói mostrava-se capaz de um enfoque mais complexo. O caminho, então, havia sido traçado. Bastava agora novos talentos para seguir por ele.

Em 1997, a DC deixou o Kryptoniano em banho-maria enquanto aguardava seu sexagésimo aniversário no ano seguinte. A espera não foi em vão. Em meados de 1998, foi lançado Superman Forever (Super-Homem Eternamente) com capa lenticular de Alex Ross contando a volta do antigo uniforme. Ainda no mesmo ano, às vésperas do natal, o próprio Ross com ajuda do escritor Paul Dini, lançou Superman – Peace on Earth (Super-Homem –  Paz na Terra), narrando a frustada tentativa do Homem de Aço em acabar com a fome do mundo. Esse álbum, em formato gigante com encadernação luxuosa, foi claramente voltado para o público adulto. 

Os esforços da DC no sentido de dar relevância ao herói não pararam por aí. Os leitores também puderam acompanhar a série mais profunda que o herói já teve desde sua origem, Superman – For All Seasons de Jeph Loeb e Tim Sale, os mesmos de Batman: O Longo Dia das Bruxas. No Brasil, a mini-série chega em setembro pela Editora Abril, batizada como o título Super-Homem – As Quatro Estações.

A trama, como o próprio nome diz, se dá em quatro estações durante seus primeiros anos da carreira do herói – uma estação para cada edição quinzenal narrada por um dos coadjuvantes da família do Super-Homem. Jonathan Kent, seu pai adotivo, relata, no primeiro episódio, a última primavera de Clark Kent em Pequenópolis. Ele é um jovem assustado e confuso, mas dotado de poderes quase ilimitados. A segunda edição é narrada pelo ponto de vista de Lois Lane e aborda o primeiro verão do herói em Metrópolis. O destaque, porém, é o complicado triângulo amoroso formado pela repórter, Clark e o Super-Homem. A história ganha toques mais dramáticos em sua terceira parte, narrada pelo vilão Lex Luthor, que naquele outono glorioso, humilha o Homem de Aço. Após estes acontecimentos frustrantes, Clark volta a Pequenópolis em busca do apoio de seus pais. Lá acaba reencontrando Lana Lang. 

O roteiro sóbrio de Jeph Loeb confere um tom reverente e um caráter mítico à história. Declaradamente influenciado por Alan Moore e Elliot S. Maggin, dois dos maiores escritores que o herói já teve, ele faz da série uma homenagem às aventuras clássicas do Homem de Aço, inclusive com referências a Superman: O Filme (1978) do diretor Richard Donner. A arte, assinada por Tim Sale, está de cair o queixo. De tantos detalhes, é possível à cada nova leitura reconhecer um novo mérito do desenhista. Ao retratar Pequenópolis de uma maneira bucólica e nostálgica, Sale certamente se inspirou no artista Norman Rockwell. Sua Metrópolis consegue ter ao mesmo tempo um ar futurista, mesclado a um estilo art-deco. A grande surpresa da série, porém, fica por conta do colorista dinamarquês Bjarne Hansen. Inicialmente contratado para fazer apenas as capas, acabou por realizar um trabalho magnífico em todas páginas. Raramente visto pintando quadrinhos, Hansen dedica-se a ilustrar campanhas publicitárias para grandes agências, capas de livros, pôsteres livros infantis. Atualmente, tem trabalhado com fundos para animação. Em Super-Homem – As Quatro Estações, ele abusa de tons pastéis para definir as estações do ano, os sentimentos dos personagens e principalmente o clima da série.

Super-Homem – As Quatro Estações teve o reconhecimento do público e da crítica especializada, recebendo vários prêmios, entre os quais o inglês National Comic Award de Melhor Romance Gráfico de 1999. Foi também considerada a série limitada favorita dos leitores da revista Wizard e obteve o maior número de indicações para o Prêmio Eisner deste anos – Melhor Série Limitada, Melhor Escritor, Melhor Desenhista/Finalista e Melhor Colorista. O sucesso da série foi tão grande que a DC estará lançando uma versão encadernada em breve, com arte inédita de Sale e Hansen.

A série também marca o início de uma nova era na vida do Super-Homem. Após anos, roteirizando as principais histórias do herói, Dan Jurgens será substituído no final desse ano nos EUA. Jeph Loeb foi escolhido para dar um rumo mais maduro às suas aventuras. Além disso, a DC Comics está traçando planos ambiciosos para o início de 2001. An Evening with Superman (Uma Noite com Super-Homem) será um álbum em formato especial, com 120 páginas, narrando como Lois Lane se apaixonou pelo Super-Homem. O lendário artista de Conan, o inglês Barry Windsor-Smith, responde por toda produção, escrevendo, desenhando e colorindo como fez com as edições de StoryTeller que produziu para a editora Dark Horse. Nada mal para um personagem que muitos ainda insistem em ver como coisa de criança.

Fabio Alexandre Rocha Marques

Artigo publicado originalmente na revista mensal HQ Express #3 da Via Lettera Editora em Novembro de 1999.