Todo mundo conhece o Super-Homem,
mas nem todo mundo conhece a história dos dois jovens de Cleveland que criaram
o Super-Homem. Baseado em material de arquivo e fontes originais, " A
história de Joe Shuster: O artista por trás do Superman" conta a história
da amizade entre o escritor Jerry Siegel e o ilustrador Joe Shuster e o coloca
no contexto mais amplo sobre a origem da indústria americana de quadrinhos.
Em “A História de Joe Shuster: O Artista
por trás do Superman”, Julian Voloj e o artista Thomas Scampi traçam um retrato
intimista sobre a vida e a obra de Joe Shuster, o primeiro artista do gênero de
super-heróis que junto com ser amigo Jerry Siegel criaram o Super-Homem.
Com a publicação de “Joe Shuster”
no Brasil pela Editora Aleph em 25 de outubro de 2018, e em homenagem aos 80 anos da
publicação da revista Action Comics #1 (DC Comics) que introduziu o Super-Homem
em abril de 1938, entrevistamos o escritor Julian Voloj, sobre sua nova graphic
novel que acaba de vencer o prêmio Carlos Gimenez na categoria "Melhor
Trabalho Internacional" anunciado na Heroes Comic Com em Madrid.
Julian Voloj é fotógrafo e
escritor, seu trabalho criativo foca em identidade e herança.
Como fotógrafo contribuiu nos jornais The New York Times, The Washington Post e The Jerusalem Post. Teve mostras exibidas no Museu Deutsch-Historisches de Berlim, e no Bronfman Center na Universidade de Nova Iorque e no Museum of Arts no Queens. Em 2012, o Consulado Alemão em Nova Iorque, exibiu uma retrospectiva de dez anos de sua fotografia na mostra “Only in America”.
Como fotógrafo contribuiu nos jornais The New York Times, The Washington Post e The Jerusalem Post. Teve mostras exibidas no Museu Deutsch-Historisches de Berlim, e no Bronfman Center na Universidade de Nova Iorque e no Museum of Arts no Queens. Em 2012, o Consulado Alemão em Nova Iorque, exibiu uma retrospectiva de dez anos de sua fotografia na mostra “Only in America”.
Nos quadrinhos ele escreveu a
graphic novel “Ghetto Brother: A Lenda do Bronx” ilustrada por Claudia Ahlering
e publicada no Brasil em 2016 pela Veneta Editora, que nasceu do convívio com o
ex-líder da gangue Benjamin Melendez.
Como você teve a ideia? Você é fã do
Super-Homem? Siegel e Shuster foram os fanboys originais, você se identifica
com eles?
Eu fui fascinado com a história dos quadrinhos americanos por um bom
tempo. Vivendo em Nova Iorque, eu tenho quadrinistas e historiadores entre meus
amigos. Eu acho que sendo um quadrinista de quadrinhos, você é um fã e, até ser
ponto, um geek.
Pesquisando a história de Joe Shuster e Jerry Siegel, havia muitas
situações que são familiares. Quadrinhos é uma indústria difícil e muitas vezes
há frustrações porque é duro ganhar a vida com quadrinhos. Então, sim, de
muitas maneiras me identifico com eles.
A história trata de um período bem
específico da vida de Joe Shuster, da adolescência até o ano de 1975, quando os
créditos do Super-Homem voltaram para eles. Por que você escolheu esta época da
longa vida dele?
Não é apenas um livro sobre a vida de Joe Shuster, mas também sobre a
criação do Super-Homem, sobre a história americana e sobre as datas pioneiras
da indústria de quadrinhos que foi realmente criada graças ao Super-Homem.
Eu quero que o leitor entenda como esse primeiro super-herói foi criado
e como ele criou a indústria como um todo. Para fazer isso, você tem que voltar
as suas origens e entender quem eram seus criadores.
Siegel e Shuster vieram da mesma cultura e tiveram uma origem similar,
sendo ambos filhos de judeus imigrantes do leste europeu. Eles eram fascinados
pela cultura pop contemporânea e tiraram elementos dela para criar o Super-Homem.
A dupla identidade vem de Zorro, sua cidade é uma cidade americana moderna, mas
também é inspirada no famoso filme (Metropolis, 1927) de Fritz Lang. Sua
história de origem lembra a história bíblica de Moisés. De todas essas e de
muitas outras fontes eles criaram algo totalmente novo: uma ficção científica
do aqui e agora, não de humanos explorando planetas distantes, mas um
alienígena (inicialmente um homem do futuro) vindo à Terra e se tornando seu
herói.
Eu poderia ter continuado o roteiro até o final da vida de Joe, mas
queria terminar com um final feliz. Então o acordo com a DC Comics foi esse
tipo de final feliz que foi um bom fechamento para a narrativa, mas na vida
real, ainda havia muito drama (que o leitor pode ler em outro lugar). Acho que
a conclusão que termina em uma nota feliz funciona, já que é uma história de
vida muito triste, mesmo que seja contada de maneira divertida.
A maioria dos livros sobre criação do
Super-Homem se concentra principalmente em Siegel, seu livro tenta uma nova
maneira de olhar, da perspectiva de Shuster. Você pode falar sobre essa decisão
e as dificuldades em pesquisar sua vida, especialmente entre 1948 e 1975?
Siegel era a figura dominante da dupla criativa. Ele escreveu os
roteiros, ele negociou com os editores e foi ele quem decidiu ir a julgamento.
Joe seguiu sua liderança, e acho que ele decidiu se juntar a Jerry na
lide contra a National Publications (nome original da DC Comics) por causa de
sua amizade e solidariedade para com ele.
Inicialmente eu estava planejando escrever a partir da perspectiva de
uma terceira pessoa, mostrando as duas vidas em paralelo, mas então eu tive
acesso a alguns escritos originais de Joe. A Universidade de Columbia, daqui de
Nova Iorque, recebeu uma doação de cartas, documentos legais e outros materiais
da década de 1960. Ler sobre as lutas de Joe vindo de sua própria voz me
convenceu a torná-lo o narrador.
A quantidade de tempo e trabalho dedicados
à pesquisa é claramente notável! É possível ver grandes influências de livros
como "Superboys" de Brad Ricca, a Biografia do Larry Tye, até mesmo “Homens
do Amanhã” de Gerard Jones. Por quanto tempo você pesquisou antes mesmo de
começar o livro? Alguma outra referência principal?
Eu tive muita sorte de ter acesso ao trabalho de outros. Existem
toneladas de informações disponíveis. Se você procurar on-line, poderá
encontrar gravações de áudio, videoclipes, documentos jurídicos e muito mais.
Meu interesse vem de várias décadas, mas provavelmente comecei a pesquisar
seriamente o roteiro por volta de 2010. Em 2013, visitei Cleveland, refazendo
seus passos e, em 2014, acessei os documentos que foram doados à Universidade
de Columbia, que mudaram drasticamente o roteiro. Creio que no final de 2014 o
roteiro estava pronto e meu agente me apresentou a Thomas.
Você teve a chance de viajar para os locais
apresentados no livro? Cleveland? Nova Iorque? Toronto? Você trabalhou apenas
em fotografias e poucas imagens disponíveis daquela época?
Sim, como mencionei antes, visitei Cleveland em 2013, logo depois de
Toronto, e morando em Nova York, a história também está perto de casa para mim.
Um fato curioso, a última residência de Joe em Nova York fica a apenas
alguns quilômetros a leste da minha casa no Queens e a cena de abertura é no
meu próprio bairro.
Jack Kirby, Bill Finger, Steve Ditko, Jerry
Siegel, Joe Shuster e muitos outros criadores sofreram injustiças e viram suas
criações sendo removidas deles.
Esta é uma história de interesse humano,
Joe Shuster não é um herói, ele é imperfeito, vocês mostram ele como uma pessoa
tridimensional e sua longa vida foi cheia de decepções e lutas, desde seu
problema de visão, a sua passividade e a tristeza nos anos posteriores e seu
breve romance com Jolan Kovacs. O livro pinta um panorama muito realista de sua
vida, mas em algumas passagens você escolhe fazer uso de sequências de fantasia
para lidar com as injustiças que ele experimentou. Você poderia falar sobre
isso?
Era importante tornar a história não em preto e branco. Joe não é
apenas uma vítima, mas um ser humano que com certeza cometeu erros.
Os editores não são necessariamente os vilões e, como vemos, Jerry e
Joe tiveram bons salários no começo e foram celebridades na primeira década do
Super-Homem.
Mas então Jerry decidiu balançar o barco, e Joe se juntou a ele por
amizade, e o resto é história.
Alguns afirmam que eles foram ingênuos no início, assinando um contrato
que daria os direitos, mas como mostramos no livro, não havia precedentes para
aquilo e ninguém esperava que o Super-Homem fosse um sucesso.
Então, da mesma forma que Super-Homem se tornou o modelo para o gênero
de super-heróis, esse tipo de contrato se tornou o modelo para futuros
contratos. Os quadrinistas e criadores estavam trabalhavam por demanda no
modelo de “work-for-hire”, e empresas possuíam a propriedade intelectual das
histórias e personagens.
Foi o pecado original. Isso é o que torna a história tão fascinante.
Como foi o processo de trabalho entre vocês
dois neste livro? Vocês tiveram um roteiro completo antes de começar? Ou vocês
trabalharam em uma versão inicial foram colaborando juntos?
Primeiro escrevi o roteiro completo e o apresentei ao meu agente, que
me mostrou o portfólio de vários artistas. Quando eu vi o trabalho de Thomas,
eu sabia que ele seria a escolha perfeito e, felizmente, ele gostou do meu
roteiro e concordou em trabalhar comigo nisso. Houve pequenas mudanças ao longo
do caminho, mas tudo em todo o script permaneceu o mesmo durante todo o
processo.
O livro está sendo publicado no Brasil
nesta semana, pela primeira vez em língua portuguesa. Esta é a sétima versão
estrangeira publicada depois que a americana foi publicada em maio passado. Você
criou o original em inglês? Super-Homem é muito popular em todo o
mundo, como você vê o sucesso internacional do livro?
Assim como minha primeira graphic novel “Ghetto Brother” (publicada no
Brasil em 2016), o roteiro foi escrito em inglês.
Quando apresentei a ideia ao meu agente, ele me disse que o livro tinha
um potencial enorme, já que os super-heróis são populares em todo o mundo. Mas
ainda assim é bom ver que a história de Joe Shuster agora alcança novos
públicos. Embora a história seja bastante conhecida nos EUA, e em outros
países, e suponho que isso também seja verdade no Brasil, as pessoas não estão
cientes do destino dos criadores de Super-Homem.
Qual é o teu próximo projeto? No que você está trabalhando agora?
Atualmente estou trabalhando em alguns novos projetos. Depois de ter lidado,
tanto em “Ghetto Brother” quanto em “Joe Shuster”, com heróis esquecidos que
não receberam o reconhecimento que mereciam, agora estou focando em algo
totalmente diferente. Juntamente com o artista brasileiro André Diniz, estamos
transformando um conto de fadas brasileiro em uma graphic novel para crianças.
O projeto ainda está em um estágio inicial, mas será um ótimo livro.
Entrevista conduzida por Fabio Marques para o site Super-Homem.COM (1/10/2018).
Leia também a entrevista exclusiva com o artista Thomas Campi.
Jerry Siegel and Joe Shuster, arte de Thomas Scampi |
A História de Joe Shuster: O Artista por trás do Superman
de Julian Voloj e Thomas Scampi
Editora Aleph, 25 de outubro de 2018
Tradução de Marcia Men
ISBN 978-8576574200
http://www.editoraaleph.com.br/
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