Superman: O Filme
Superman: The Movie, 1978, EUA
Num sábado à tarde de junho de 1979, meu pai me leva ao cinema para assistir a Superman - O Filme. Eu tenho cinco anos. Tudo está perfeito: um saquinho de pipocas no colo, meu pai ao lado para explicar o que eu não entender e – o mais importante – uma história em quadrinhos prestes a ganhar vida.
O filme começa. Estamos em junho de 1938. Um garoto folheia um exemplar da mítica Action Comics. O desenho fixa-se no prédio do Planeta Diário e, em seguida, somos lançados ao espaço, onde se desenrola uma impressionante seqüência de créditos iniciais. Quando os nomes dos atores principais são apresentados, surge o famoso emblema acompanhado do título: Superman! Finda a viagem pelo cosmo, vemos um planeta azul orbitando um sol vermelho. O resto é história.
A NOVA VERSÃO EM DVD
Mais de vinte e um anos se passaram. Já assisti ao filme inúmeras vezes, mas, só agora, a experiência de revê-lo beira a que povoa minhas recordações. Explico: acabo de assistir à nova versão em DVD. Tudo está lá novamente e nem preciso do saquinho de pipoca. Meu herói favorito continua vivo e mais real do que nunca. As cores estão vigorosas, os efeitos visuais, perfeitos, as feições e os cenários, nítidos como jamais estiveram. As cenas acrescidas não tornaram o filme mais lento. Ao contrário, deram força à narrativa.
O que me surpreende em Superman – O Filme é o ritmo sereno, a certeza de que tudo tem seu tempo. O diretor Richard Donner não se apressa em mostrar os fantásticos efeitos que nos fizeram crer que um homem podia voar. O Super-Homem, de uniforme e capa, demora 45 minutos para surgir na tela, e quando o faz, fica óbvio que a decisão não podia ser mais acertada. Nesta nova versão, ainda foram incluídos mais cinco minutos antes do Homem de Aço fazer seu debut glorioso em Technicolor.
TRÊS EM UM
O filme, na verdade, não é apenas um, mas três. Donner e seu consultor criativo Tom Mankiewicz, que refez o roteiro original, dividiram-no em momentos bem distintos. O primeiro deles trata-se de uma ficção científica. Marlon Brando, como Jor-El, confere à trama um tom quase religioso. O planeta Krypton é frio, pálido e, de certa forma, triste. Evoluídos ao extremo do ceticismo e da prepotência, os kryptonianos enxergam-se como senhores do universo, imortais e indestrutíveis. É essa vaidade que torna impossível vislumbrarem seu fatídico destino. A nova versão traz duas cenas extras que, embora acrescentem pouco, explicam a existência e o funcionamento da Zona Fantasma.
Quando Kal-El chega à Terra, tem início a segunda parte. Agora, estamos diante de um drama rural. As cores campestres substituem os tons monocromáticos que imperavam antes. Vemos a Americana do pintor Norman Rockwell. Os temas do american way of life fazem-se presentes nas plantações e nos valores do casal Jonathan e Martha Kent, os pais adotivos do filho das estrelas.
A nova versão traz neste início duas cenas extras: a primeira apresenta, no trem que Clark desafia, a ainda menina Lois Lane, cujos pais são interpretados por Noel Neil e pelo saudoso Kirk Alyn, respectivamente Lois Lane e Clark Kent do seriado de 1948; a segunda mostra o amanhecer em uma fazenda de Pequenópolis, Kansas. Martha prepara o café da manhã para seu filho; mais uma propaganda do matinal Cheerios. É curioso que, em vários momentos de sua história, o Super-Homem tenha sido patrocinado por cereais. A Kellogs marcou presença tanto na radiossérie dos anos trinta quanto nos episódios para TV da década de cinqüenta.
A terceira parte começa em Metrópolis. Mais uma vez, é quase outro filme. Nada de ficção científica e muito menos de drama rural, seu tom beira a comédia romântica povoada sátiras, ironias e paródias, mas sem perder o toque grandioso. Brincadeiras, como a da cabine telefônica quando Clark precisa se transformar no Super-Homem, mesclam-se perfeitamente com cenas de ação como o resgate simultâneo de Lois e de um helicóptero.
RESTAURAÇÃO METICULOSA
Na nova versão, as cenas estão limpas e claras. Nem parecem ser de 1978, época em que não havia efeitos digitais. Foi meticulosa a restauração de imagens e sons empreendida pela equipe de Donner, como os retoques de cores e iluminação nos poucos trechos originais em que o traje ficava esverdeado. As imagens extras, no entanto, foram alvo de maiores esforços. É o caso das demonstrações de superpoderes, ausentes em 1979, que receberam o realce de efeitos digitais. As demais seqüências acrescentadas têm poucas importância, mas é saboroso ver Clark Kent cruzar com um pedestre interpretado por Richard Donner. Destaque também merece a trilha sonora composta por John Williams, pela primeira vez, em Dolby Surround 5.1.
A versão aqui resenhada é a americana Região 1, lançada no início de maio pela Warner Home Video. Nos EUA, foram postos à venda cinco títulos: os quatro filmes e uma caixa com todos eles reunidos. Apenas o primeiro, agora em widescreen (2.35:1), foi restaurado e expandido. Seu disco consta de três faixas de som – a trilha propriamente dita, as composições de John Williams e os comentários de Richard Donner e Tom Mankiewicz –, dois trailers originais de cinema, o da televisão americana e três documentários sobre a pré-produção, a produção e a pós-produção, em que são entrevistados, além de Donner e Mankiewicz, o editor Stuart Baird e os atores Christopher Reeve, Margot Kidder, Gene Hackman e Marlon Brando. Reeve também aparece nos testes que fez para o papel principal. Há imagens de outras atrizes cogitadas para interprestar Lois Lane. Duas cenas não utilizadas em 1978 e nem na versão expandida são exibidas. Uma faixa especial para DVD ROM traz storyboards e trailers. O disco região 1 contêm legendas em inglês, francês, espanhol e português, o que vai garantir, em agosto, o lançamento na região 4, que inclui o Brasil.
Superman – o filme continua sendo uma experiência única e emocionate. Aproveite o novo DVD e confira como se faz, de maneira decente, uma adaptação de histórias em quadrinhos para a tela grande.
PRÊMIOS E INDICAÇÕES:
Academy Awards (Oscar), 1979:
Prêmio Especial de Realização em Efeitos Visuais.
Indicado ao prêmio de Melhor Edição para Stuart Baird.
Indicado ao prêmio de Melhor Trilha Sonora para John Williams.
Indicado ao prêmio de Melhor Som.
Academy of Science Fiction, Horror and Fantasy Films (Saturn) em 1979:
Melhor Design de Produção para John Barry.
British Academy Awards (BAFTA), 1979:
Melhor Revelação para Christopher Reeve.
Indicado para Melhor Fotografia para Geoffrey Unsworth.
Indicado para Melhor Direção de Arte para John Barry.
Indicado para Melhor Som.
Indicado para Melhor Ator Coadjuvante para Gene Hackman.
Golden Globe (Globo de Ouro), 1979:
Indicado para Melhor Trilha Sonora para John Williams.
Grammy Awards (Grammy), 1980:
Melhor Álbum de Trilha Sonora de Filme ou Especial de TV para John Williams.
Hugo Awards, 1979:
Melhor Apresentação Dramática.
Resenha do DVD publicada em omelete.com.br, 21 de maio de 2001
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